#020 Exchange Everything, Mercado 24/7 e a Identidade Digital
Se a última edição foi sobre a construção da infraestrutura, a edição #020 é sobre a convergência operacional. A tecnologia deixou de ser um “anexo de inovação” para redefinir o core business de marcas, bancos e bolsas.
Nesta semana, três movimentos redesenham as fronteiras do mercado. Nos EUA, a tese “Exchange Everything” sugere que grandes marcas de varejo passarão a emitir moeda própria. No Brasil, o uso de identidade em blockchain sai do papel para destravar crédito com menos fricção, e a B3 confirma que o pregão do futuro será 24/7, tokenizado e com liquidação contínua.
O recado para o executivo financeiro é claro: em 2026, a competição não será apenas pelo produto, mas pela capacidade de operar em um ecossistema líquido, contínuo e integrado à identidade do cliente.
1. Coinbase e a Tese “Exchange Everything”
Marc Baumann, fundador da 51 Group, publicou uma análise seminal sobre o novo movimento da Coinbase: o lançamento do serviço de Custom Stablecoins. A tese é que a plataforma deixou de ser apenas uma corretora cripto para se tornar a infraestrutura bancária das grandes marcas (The Everything Exchange).
O Ponto-Chave: Dinheiro “Branded”. A nova plataforma permite que empresas (imagine uma companhia aérea ou uma gigante de café) emitam seus próprios “dólares digitais”, lastreados em USDC e com todo o compliance gerido pela Coinbase. Diferente de pontos de fidelidade presos em um app, esses ativos são dinheiro líquido, programável e interoperável.
Análise Estratégica: Baumann aponta que isso desafia a necessidade de intermediários bancários tradicionais para programas de fidelidade. Para o mercado financeiro, o alerta é sobre a “financeirização” das marcas de varejo. Se o programa de loyalty do seu cliente corporativo virar uma moeda líquida e regulada, ele precisará da sua tesouraria ou da infraestrutura de uma Big Tech cripto? A batalha pelo float corporativo mudou de arena.
2. Identidade Digital: O Fim da Fricção no Crédito
Enquanto o mundo discute moedas, o mercado brasileiro ataca a maior ineficiência bancária: a identificação. O Bradesco iniciou testes práticos de sua solução de identidade digital via blockchain (IDbra) em agências físicas, focando na jornada de contratação de produtos.
O Ponto-Chave: Eficiência na Ponta. O objetivo estratégico vai além da tecnologia: é puramente comercial. Ao usar credenciais verificáveis em blockchain para preencher automaticamente propostas, a estimativa é reduzir o tempo de contratação em 50% e, crucialmente, quadruplicar a taxa de conversão. O cliente mantém a soberania dos dados, mas a instituição ganha na velocidade da esteira.
Análise Estratégica: Este caso ilustra uma tendência para 2026: o blockchain saindo do backoffice e virando ferramenta de venda. A identidade digital única, portátil e segura é o “Santo Graal” para reduzir o Custo de Aquisição de Cliente (CAC). Quem dominar o protocolo de identidade terá a preferência na hora da concessão do crédito.
3. O Mercado que Nunca Dorme (B3 2026)
A B3 dobrou a aposta para o próximo ano. A bolsa confirmou o lançamento de sua plataforma de tokenização e de uma stablecoin própria (pareada ao Real) para 2026. O objetivo final? Viabilizar o funcionamento do mercado de capitais 24 horas por dia, 7 dias por semana.
O Ponto-Chave: Liquidez Híbrida. Diferente de iniciativas isoladas, a bolsa brasileira quer criar um mercado onde o ativo tradicional e o ativo digital (token) compartilhem a mesma liquidez. O investidor compra o token, mas está acessando um mercado regulado e profundo. Além disso, planeja-se lançar opções de criptoativos, institucionalizando de vez os derivativos digitais.
Análise Estratégica: A B3 está construindo a infraestrutura para um mundo non-stop. Ao controlar a emissão do ativo (token), a liquidação (stablecoin) e o mercado secundário, a bolsa oferece aos bancos e corretoras uma infraestrutura pronta. A pergunta estratégica para as tesourarias e plataformas de investimento é: seus sistemas legados e sua mesa de operação aguentam um mercado que não fecha às 17h?
Links da Semana
As fontes originais para aprofundar a discussão com sua equipe técnica:
Live Bitcoin News: A tese de Marc Baumann: Coinbase lança império financeiro disfarçado de serviço
Exame Future of Money: Testes de identidade digital em blockchain focam em destravar crédito
InfoMoney: B3 prepara stablecoin própria para viabilizar negociação 24 horas em 2026
Leitura Bônus: O artigo do courtnay guimaraes dessa semana explica didaticamente o tamanho da complexidade do mercado de Ativos Digitais e o que precisamos endereçar até 2030. Não deixe de ler, CLICANDO AQUI.
Conclusão: Convergência é a Palavra
A edição #020 da TrendFi reforça que estamos na fase de convergência.
A Coinbase converge marcas em quase-bancos. A identidade digital converge segurança com venda rápida. A B3 converge o mercado tradicional com a disponibilidade 24/7 do cripto.
Não se trata mais de “cripto versus bancos”, mas de como essa tecnologia está sendo absorvida para resolver problemas de eficiência, liquidez e identidade que o sistema legado nunca conseguiu solucionar plenamente.
A provocação para a semana: Se o mercado caminha para operar 24/7 e seus clientes corporativos poderão emitir a própria moeda, o modelo de atendimento e produtos do seu banco está preparado para essa nova dinâmica contínua?
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Nos vemos na próxima edição!
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