#004 Drex sem blockchain
Na última quarta-feira, (06/08) no palco do Blockchain Rio, o Banco Central surpreendeu ao anunciar que o Drex, em sua próxima fase, não usará mais a tecnologia blockchain. Foi uma daquelas frases que mudam o clima de um auditório em segundos: para uns, o fim de um sonho de modernização radical da infraestrutura financeira brasileira; para outros, um sinal de que o regulador prefere a rota da previsibilidade e do controle.
Eu estava lá. Vi expressões de incredulidade, pessoas enviando freneticamente mensagens pelo whatsapp, ouvi ainda conversas sussurradas sobre os impactos técnicos e nas estratégias do setor após essa notícia. Mas, ao sair do evento, a sensação que me acompanhou foi outra: essa decisão não fecha portas — ela reposiciona o jogo. Ao tirar a blockchain do núcleo do Drex, o Banco Central deixa um espaço valioso para que o mercado crie soluções próprias, mais rápidas e flexíveis, que podem acelerar a tokenização de ativos e pagamentos via stablecoins em Reais.
📌 Drex Sem Blockchain: o copo meio cheio
A nova corrida das stablecoins
Mudanças de rota em projetos estratégicos são, por natureza, ambíguas. O anúncio de que o Drex não será mais baseado em blockchain é, ao mesmo tempo, uma pausa e um convite. Pausa porque interrompe uma narrativa que vinha sendo construída há dois anos, com pilotos, consórcios e expectativas elevadas. Convite porque, ao reduzir seu papel como “ponte” oficial para o mundo tokenizado, o Banco Central abre espaço para que empreendedores, bancos e fintechs proponham alternativas para atender à demanda por liquidez digital e interoperabilidade.
Em um país onde o Pix já provou que inovação financeira pode escalar rápido, a ausência da blockchain no Drex não é um freio mas pode ser um chamado para que o setor privado lidere a próxima onda de transformação da economia digital.
1. A decisão do Banco Central
O BC justificou que a mudança é técnica e pragmática: a nova arquitetura do Drex priorizará estabilidade e escalabilidade, deixando de lado a blockchain para adotar uma infraestrutura mais próxima dos sistemas bancários atuais. Para o regulador, a tecnologia se mostrou inviável para atender aos requisitos propostos no piloto e também na resposta ao trilema das CBDCs (programabilidade, descentralização e privacidade). O objetivo agora é entregar a solução em 2026, com um foco crédito colateralizado (garantia).
2. O impacto imediato no ecossistema
O choque inicial foi grande. Consórcios que participaram da primeira fase do piloto precisarão rever estratégias, e startups de infraestrutura temem que potenciais parcerias esfriem. Mas, curiosamente, o discurso dominante no evento não foi de “fim de jogo”. Especialistas lembraram que a tokenização no Brasil não depende apenas do Drex: o mercado de capitais segue testando DLT e blockchain, e a CVM já anunciou iniciativas para normatizar o uso de blockchain pelos depositários centrais.
3. Oportunidade: stablecoins em reais
É aqui que o copo fica meio cheio. Se o Drex não será a ponte entre o mundo tradicional e os ativos tokenizados via blockchain, nada impede que stablecoins privadas assumam esse papel — com compliance, liquidez e integração com o Pix. Esse vácuo regulatório operacional pode acelerar o surgimento de soluções para liquidação de transações, micro pagamentos e interoperabilidade em DeFi, impulsionando a tokenização de ativos reais. Em outras palavras: o espaço para empreendedores e instituições inovarem nunca foi tão grande.
🔗 Sinais do Sistema
Três links que reforçam (ou tensionam) a conversa:
Banco Central abandona blockchain no Drex — Detalhes do anúncio no Blockchain Rio e os motivos da mudança. Ler no Cointelegraph
Tokenização continua no radar — Como consórcios e empresas estão reagindo à decisão. Ler no BlockNews
CVM e blockchain no mercado de capitais — Regulação avança para descentralizar depósitos centrais. Ler no Cointelegraph
💬 E aí, o que você viu?
Se você também acredita que o “não” do Drex à blockchain pode ser o “sim” do mercado às stablecoins, compartilhe esta edição e vamos ampliar o debate sobre o futuro da tokenização no Brasil.
