#003 Stablecoins em Alta
O mercado se apaixonou pela ideia de “dinheiro que não oscila” e, desta vez, os números confirmam a narrativa. As buscas globais por stablecoins no Google acabam de quebrar o recorde histórico, puxadas por uma capitalização que já passa de US$ 272 bilhões.
Mas o fenômeno não vive só de estatísticas internacionais: no Brasil, tokens pareados ao dólar começam a aparecer em programas de turismo, planilhas de trade e conversas regulatórias de alto nível.
Por que falar de stablecoins agora?
Sinal de maturidade do mercado. Depois de anos sendo vista como “cola” entre o mundo cripto e a economia real, a stablecoin virou classe de ativo por si só. O salto de capitalização desde janeiro e o apetite de gestoras tradicionais mostram que há demanda genuína por liquidez digital em dólar, euro ou real.
América Latina como laboratório. Pressões cambiais e inflação acelerada levaram investidores regionais a buscar proteção em moedas fortes tokenizadas. Hoje, USDC já responde por 24 % das compras de cripto na região, à frente do próprio Bitcoin.
Agenda regulatória em ebulição. A Genius Act nos EUA delimitou terreno para emissores privados, enquanto Europa corre contra o tempo com o Euro Digital. No Brasil, o Banco Central abriu a Consulta Pública 111/2024 para incluir serviços de ativos virtuais no mercado de câmbio, um movimento que pode redefinir custos, impostos e modelos de negócio.
📌 Stablecoins em Alta
O dinheiro sem atrito que desafia fronteiras e reguladores
Antes de mergulharmos nos números e na corrida regulatória, vale lembrar por que stablecoins importam de verdade. Elas condensam o “melhor dos dois mundos”: a liquidez quase instantânea da rede blockchain e a previsibilidade de uma moeda fiduciária, permitindo que tesourarias corporativas movimentem valores 24/7 sem carregar a volatilidade típica do cripto. Em vez de ficarem restritas a traders de arbitragem, essas moedas pareadas começaram a alimentar casos de uso muito mais pragmáticos, de folha de pagamento internacional a financiamento de cadeia de suprimentos, criando um novo layer de eficiência financeira que bancos e fintechs tradicionais não podem mais ignorar.
No Brasil, esse fenômeno ganhou contornos próprios. Ainda à espera do Drex e de um marco legal definitivo, empresas e investidores locais adotam USDC e USDT como atalho para dolarizar caixa, proteger margens e testar fluxos transfronteiriços num ambiente de custo cambial elevado. Esse vácuo regulatório funciona, por ora, como um “campo de provas” onde conceitos de liquidez programável e compliance em tempo real podem ser validados na prática — preparando terreno para a próxima safra de produtos que, inevitavelmente, terá de dialogar tanto com o Banco Central quanto com a lógica rápida e global das blockchains.
1. Curva de adoção: mais que buzz, tração real
Quando buscas disparam, costuma ser hype passageira. Desta vez, a procura acompanha o “crescimento parabólico” da oferta de tokens lastreados, 98 % deles atrelados ao dólar e 60 % sob domínio da Tether. Analistas apontam a dupla utilidade de hedge e pagamento cross-border como motor principal de adoção.
2. Brasil e América Latina na agenda do dólar tokenizado
O relatório Panorama Cripto da Bitso cravou a virada: USDC superou o Bitcoin como cripto mais comprada pelos latino-americanos em 2024, e USDC+USDT já somam 26 % das aquisições no Brasil. Capitais também testam políticas públicas: o Rio de Janeiro negocia com a Tether para aceitar USDT em seu programa VisitRio, unindo cashback em stablecoin a atrativos turísticos.
3. Regulação: a janela (ainda) está aberta
A Europa soa o alarme: em blog oficial, o BCE diz que a dominância de stablecoins em dólar pode erodir a soberania monetária e acelera o projeto de euro digital como contrapeso. Nos EUA, a Genius Act já virou lei e pressiona quem opera globalmente a obedecer dois padrões de compliance. A Genius ACT foi tema da primeira edição do TrendFi, você pode conferir AQUI.
Consulta Pública 111/2024 no radar. No Brasil, o Bacen propôs que prestadoras de serviços de ativos virtuais só ofertem stablecoins dentro do marco cambial, fixando limites (até US$ 100 mil para PSAVs sem licença bancária) e obrigando reporte granular de cada transação. O texto sugere que comprar ou custodiar stablecoins denominadas em moeda estrangeira passe a ser formalmente classificado como operação de câmbio — abrindo debate sobre possível incidência de IOF e exigindo nova estrutura de capital e risco para quem oferta o produto. Para bancos e fintechs, é o aviso de que a regulação virá pelo corredor do câmbio, não pelo sandbox de pagamentos.
🔗 Sinais do Sistema
Quatro links que reforçam (ou tensionam) a conversa:
Google Trends crava novo topo para stablecoin: Cointelegraph analisa o rally de interesse e o mercado a US$ 272 bi;
Rio negocia USDT para turistas: Prefeitura quer integrar pagamentos em stablecoin e bônus no VisitRio;
USDC ultrapassa Bitcoin nas carteiras latino-americanas: Estudo da Bitso detalha a virada para tokens dolarizados.
EU Advances Digital Euro, US Stablecoin Users Thrown to the Wolves: Richard Turrin analisa estratégia pró-mercado dos USA versus CBDC Europeia.
💬 E aí, o que você viu?
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